De Olho no Futuro Profissional

Rapaz caminhando

“(…) Caminhante, não há caminhos. Faz-se o caminho ao andar.”
(António Machado)

É preciso trilhar o próprio caminho e ficar de olho no Futuro Profissional a partir do aprendizado, mas nem todos conseguem porque param em determinado ponto da vida. Muitos vivem a deriva, sem rumo, não nasceram plenamente. “O nascimento para o homem não é um ato, é um processo. A meta da vida é nascer plenamente, embora sua tragédia consista em que a maioria dos homens morrem antes de haver nascido plenamente. Viver é nascer a cada minuto. A morte ocorre quando cessa o nascimento, psicologicamente, porém, a maioria dentre nós cessa de nascer num certo e determinado ponto. Alguns são totalmente natimortos, continuam a viver fisiologicamente, mas mentalmente anseiam regressar ao ventre, à terra, às trevas, à morte; são eles loucos, ou quase”, citação do livro Zen Budismo e Psicanálise dos autores D. T. Suzuki, Erich Fromm e Richard de Martino (1989, p. 103-104). Os autores destacam que muitas pessoas deixam de viver plenamente e esquecem de ficar de olho no futuro profissional.

Porque o nascimento para o homem é um processo?

Processo é sinônimo de devenir, que significa o movimento pelo qual as coisas se transformam. Para Visca (1987, p. 87) é “(…) o transcurso do que vai sucedendo e é uma característica de toda coisa de estar a cada instante de uma forma distinta à anterior. 

Ao analisarmos um pouco mais estas frases tão cheias de significados podemos chegar à seguinte reflexão: o homem desde seu nascimento até a sua morte leva a vida aprendendo, se desenvolvendo, aperfeiçoando com cada experiência de vida. Nasce indefeso, dependendo de outros seres humanos para sobreviver e conforme vai assimilando o que aprende vai se tornando independente. E, nessa aprendizagem constante vai mudando sua forma de agir e de pensar. E, é buscando algo mais, sendo curioso e, principalmente, extraindo de cada vivência uma maneira de crescer como pessoa, é que poderá tornar-se um ser humano, mais justo, que compartilha com o outro o que tem de melhor em si. Assim, não estará apenas passando pela vida, mas plantando sementes, cuidando delas com todo carinho, para que no futuro possa vê-las frutificar-se em gostosos frutos ou transformar-se em belas flores. Essa pessoa, nunca morrerá, pois terá deixado um legado, sido útil e deixado uma lembrança eterna para este planeta. Dessa forma, o seu olhar no futuro profissional muda para melhor.

Os jovens: de olho no futuro profissional

Marina Müller (1988) diz que “(…) Os jovens emergem com esforço do núcleo familiar e de relações dependentes, em especial com a mãe, segundo se observa clinicamente. Fazem-no muitas vezes com dúvidas, sentimentos de confusão, culpa e depressão pelo desprendimento e morte dos pais – e da criança em si mesmo – que supõem simbolicamente crescer”.  

Sabemos que a adolescência é um período em que o sujeito está em crise, vive no meio de um turbilhão de mudanças sucessivas, tanto corporais quanto psíquicas, continuando seu processo de evolução. Nessa fase de conflitos, em função da nova estrutura de seu corpo e da transição entre a criança que foi e o adulto que será, o adolescente precisa se autoafirmar, questionando o comportamento tanto de seus pais quanto dos adultos em geral. Seus lutos, desde seu nascimento têm sido constantes em sua vida. As perdas necessárias  que  vai  enfrentando  ao longo de sua vida, às vezes, o deixa amedrontado e inseguro.

“(…) Para um adolescente, definir o futuro não é somente definir o que fazer, mas, fundamentalmente, definir quem ser e, ao mesmo tempo, definir quem não ser” (Rodolfo Bohoslavsky, 1998).

Quando o adolescente precisa confrontar-se com a construção de seu futuro surge muita ansiedade e angústia. Diante de um momento de escolha, normalmente, passa por uma crise em função de suas dúvidas e de seus conflitos psíquicos, principalmente, porque se depara muitas vezes com a dificuldade de uma tomada de decisão que conflitua com os interesses de seus familiares e de seus próprios interesses. Ele não sabe exatamente o que quer ser, o que quer fazer da vida. Percebe-se claramente que ele está confuso quanto à sua própria identidade pessoal.

O futuro está impregnado de mistérios o que implica para ele ter uma postura de adulto, pois ainda não consegue elaborar as mudanças de seu corpo, as novas sensações que vai percebendo como algo bom, mas ao mesmo tempo o tira de sua zona de conforto. É a partir do conhecimento de si mesmo que o adolescente vai aprendendo a SER, a imaginar,  a entrar em contato com o seu mundo interno, a lidar com o mundo externo, elencando suas necessidades mais prementes e desfazendo-se de alguns mitos que só dificultam seu processo de escolha profissional. Esta escolha  implica em algo que o faça feliz. Algo que ele ainda desconhece por inteiro, algo que o faça sentir-se realizado. Seria a construção de uma trilha que o levasse a ser no futuro uma pessoa bem sucedida e independente, realizando o seu desejo de construir seu próprio lar, sua própria vida para que possa sentir-se alguém, SER alguém. Deste modo, a orientação vocacional é uma forma de facilitar esse processo de escolha do adolescente e ter um olhar no futuro profissional mais claro.

Orientação Vocacional

Em sua obra “Afetividade e Inteligência”, Cláudio J. P. Saltini (1997),  nos  diz que “(…) Quem não se percebe não percebe o outro e quem percebe o outro passa a se perceber sincronicamente” .

É a partir dessas reflexões que o orientador vocacional poderá facilitar o processo de escolha de quem o procura: o adolescente. Os jovens estão passando por mais um processo em sua vida. Precisam de uma orientação para que possam tomar suas próprias decisões sobre o seu futuro profissional.

Dessa forma, o orientando se adaptará com mais facilidade à sua nova condição de sujeito, superando os conflitos próprios de sua idade.

Ao passar pelo processo de Orientação Vocacional em que vai aos poucos se percebendo, desmitificando algumas crenças, preconceitos e construindo objetivos mais claros que podem ser os caminhos mais eficazes para se chegar a  algum lugar, é que o adolescente consegue visualizar, de uma maneira mais ampla, seu  futuro não só profissional, mas sua própria vida futura. Remexer em seu passado lhe causa muita dor. Mas, ao falar de seu sofrimento, compartilhando com o outro seus conflitos internos passará a entender que não é o único que tem problemas. Na maioria das vezes, se identifica com a história do outro que é muito parecida com a sua própria história de vida, se espelhando neste outro e observando que ambos são seres humanos que procuram uma melhor compreensão de si mesmos para que possam amadurecer e tornarem-se adultos.

Conforme vai se aprofundando em seu processo de orientação vocacional o jovem entra em contato com a sua matriz de identidade, encontrando um espaço para falar de suas angústias, dúvidas e dificuldades enquanto sujeito que se desconhece, pois está em desequilíbrio interno. As cobranças de seus familiares também torna essa situação mais ambígua porque fortalece o quadro de indecisão em que o adolescente se encontra. Ao depositar as suas fantasias no futuro profissional de seus filhos, os pais, muitas vezes predispõem estes últimos a uma patologia, a um conflito psíquico que vai sendo desmitificado durante o processo de Orientação Vocacional. Com a possibilidade de ser ouvido e respeitado em sua própria subjetividade o adolescente vai estabelecendo um lugar para seu próprio desejo.

Deste modo, ao integrar o que pensa, o que sente e a percepção do ambiente a partir de sua mente e corpo, o jovem vai formando uma identidade pessoal e profissional. Ao responder suas próprias perguntas: Quem sou?; Quem serei?; O que farei?; Como estou e ficarei?; O que gosto de fazer?; O que não gosto de fazer?; O que poderei fazer de útil para a sociedade e para mim mesmo?; começará a ser o ator que interpretará uma única personagem, ele mesmo enquanto sujeito desejante. Aprenderá que pode se desprender dos desejos dos outros sem culpa e trilhar seus caminhos futuros sem medo, elaborando alguns de seus conflitos, assumindo as rédeas de sua vida. Assim, o jovem fica de olho no futuro profissional sem medos e conflitos.

Para finalizar o tema “De olho no futuro profissional” parafraseando Kalil Gibran: “Os adolescentes são como flechas, porém, flechas mágicas que ao serem lançadas numa determinada direção, assim que saem dos arcos, transformam-se em  pássaros e escolhem uma direção mais adequada aos seus ideais”  já que puderam entender que sempre serão andarilhos e em sua jornada de vida encontrarão obstáculos ou problemas que poderão ser superados, pois não terão os trilhos que o conduzirão pela estrada afora, e sim trilhas que foram e serão construídas segundo seus desejos e força de vontade que os levarão aos mais inusitados lugares e os permitirão transpor todas as barreiras que os impedem de alcançar seus objetivos, suas metas de vida, seus sonhos e desejos.

Bibliografia:

BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação vocacional a estratégia clínica. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998.

GIBRAN, Kalil. O profeta. São Paulo: Ed. Mantra, 2015.

MACHADO, Antonio. Faz-se o caminho ao andar. Blog Momentos e Olhares, 2010.

MÜLLER, Marina. Orientação vocacional contribuições clínicas e educacionais. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1988.

SALTINI, Cláudio J.P. Afetividade e inteligência. São Paulo: Ed. DP & A, 1997.

SUZUKI, D.T.; FROMM, Erich; DE MARTINO, Richard. Zen budismo e psicanálise. São Paulo: Ed. Cultrix, 1989, p. 103-104.

VISCA, Jorge. Clínica psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1987, p. 87.

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